terça-feira, dezembro 29, 2009

Quando fazemos dos lugares a nossa casa...

Perguntam-me muito como é voltar a casa...

Gosto mais de pensar que fazemos dos lugares onde estamos a nossa casa...
Que podemos ter o espírito nómada mesmo estando no sítio que nos habituou a viver...
Que somos sempre convidados a entrar em novas casas e a reconstruir sempre a nossa...

"

A nossa casa ,à partida, dá-nos espaço para podermos viver..

Como construir uma casa?

(aceitam-se sempre sugestões de engenharia e arquitectura ;))



sexta-feira, dezembro 25, 2009

A todos um Bom Natal


[Postal by Ana Simões]

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Mais uns (ex)certos

«Quando amamos alguém, não perdemos só a cabeça, perdemos também o nosso coração. Ele salta para fora do peito e depois, quando volta, já não é o mesmo, é outro, com cicatrizes novas. Às vezes volta maior, se o amor foi feliz, outras, regressa feito numa bola da de trapos, é preciso reconstruí-lo com paciência, dedicação e muito amor-próprio. E outras vezes não volta. Fica do outro lado da vida, na vida de quem não quis ficar do nosso lado.»

«Para todas as mulheres que viveram um grande amor.
A todos os homens que o perderam»

Margarida Rebelo Pinto, in Dia em que te esqueci

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Cântico Negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui!"

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre de minha mãe


Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam os meus próprios passos...


Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!" ?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Com0 farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por ali...


Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia enexplorada!

O mais que faço não vale nada.


Como, pois sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramenttas e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátria, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principío nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

- Sei que não vou por aí!



José Régio

quinta-feira, dezembro 03, 2009


Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor -
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.
.
Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.
.
Quem corre para o limiar é louco,
e quem o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes por que já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.

Anna Akhmatova