terça-feira, maio 24, 2011

Quando tombamos é sempre para o lado

Ele descia as escadas lentamente numa marcha impotente, dolorosa. A mobilidade do corpo reflectia também a sua expressão. Pausada, quase apática. A precisar de suporte.

Ela ia do lado direito a agarrar-lhe a mão. Notava-se na sua voz que acreditava na volupia das palavras como marcadores entendíveis, geradores de bem estar. Fazia-o empaticamente e não minto se dizer que se lhe adivinhava alguma pena no olhar. Zelava como podia. Com cuidado, emanando carinho e diria até conseguir transmitir alguma leveza áquele corpo rígido e pesado. Assim, apenas por ser quem era. Calma!

Do lado esquerdo ia a outra. Quase que a morder o lábio por dentro. Estava ali como que a mostrar qualquer coisa a ela própria. Senhora dos desafios, que não podia deixar nada a meio. Encarava-o, sem saber, como um vitória pessoal, algo que conquistaria, a percepção de se dedicar a grandes causas e ostentá-las como resultado da sua competência. Uma espécie de esforço sobrehumano que só alguns tinham e da qual ela se orgulhava de fazer parte.Pouco olhava para ele. Olhava em frente, não fora aparecer algum obstáculo que a impedisse de levar a cabo a sua nobre tarefa.

E ele caminhava assim. Apoiado por estes dois "braços"...



sábado, maio 14, 2011

Mudanças



Começa pelo gerir a ideia de que vai haver mudança. Sonha-se com a perfeita mudança: pormenores de tudo, a sequência do tempo e forma como vai acontecer (porque a cabeça quer que seja assim para ser bem e correr bem). Dá-se um passo em frente e sente-se o pé de trás a tremelicar. O olho esquerdo vê em frente e o direito olha para trás. Divide-se tudo!! A vontade de manter o conhecido e a aventura do desconhecido, do desbravar caminhos e tentar que tudo se torne melhor ainda do que haviamos deixamdo atrás, mas... atrás temos um livro de histórias!! Tem capítulos marcados, páginas vincadas e frases sublinhadas por momentos únicos e tão especiais à sua maneira. Personagens que entram e saem de cena ou, simplesmente, entraram e ali ficaram. Mudar os hábitos e criar novos, mudar de ares para respirar novos, ensinar o novo caminho a quem o quiser conhecer e fechar caminhos para quem tem medo da aventura. Mudanças!!!



Tirar tudo do lugar e deixar...vazio! Mas vazio para encher outro espaço que precisa daquela vida que se embrulha, com cuidado e atenção, se coloca numa caixa, se fecha com fita adesiva e se escreve por fora "frágil"! E lá vai, em braços fortes até à bagageira. Come a estrada e é novamente acartada, à espera de ser pousada e... de ser novamente aberta para ter novos olhos. As mudanças são isso mesmo, o desarrumar, o retirar, o deixar vazio e encaixotar; separar tudo o que é preciso e é nosso, para levar, daquilo que fica para trás ou se separa agora da história contada. Levam-se nos braços as preciosidades que irão fazer história!



Chega a hora de tirar, embrulhar, arrumar bem arrumado, fechar, levar nos braços seguros, fazer o caminho e abrir para voltar a encher e dar vida... mas as mudanças são bem mais fáceis quando sabemos que temos outros braços para levar o que é nosso, com mais cuidado ainda, e ajudar a reduzir o peso do cansaço... é nas mudanças que os amigos são os nossos braços e a nossa bússola no caminho; o nosso colo no descanso, e o nosso sorriso no cansaço e nunca, nunca nos deixam sozinhos a menos que cheguemos ao fim!!!




Chegou a hora da mudança... com um sorriso e com companhia para o começar, acabar e recomeçar de novo :)

quinta-feira, maio 05, 2011

Não sei se já tinham reparado mas…


Há muito tempo que não escrevo. Finjo que o faço. Escondo-me por detrás de sonatas pré-feitas, de palavras emprestadas e que subscrevo. De linhas dispersas que deixam a pairar a ambiguidade. A música ajuda a esconder a desinspiração , a dar sonoridade aos espaços vazios. Há dias em que despirmos as palavras, despirmo-nos por palavras, incomoda. Foram demasiados dias.



Talvez me fosse difícil aceitar o portento que os meus textos transbordam. O mel a substituir a argúcia. O romantismo a esvair-se em fumaça. Lermo-nos a nós próprios (sem palavras) nunca é fácil.

Não sei se isto será uma respiração boca a boca ás letras que levo aqui dentro… (de si só)