segunda-feira, julho 20, 2009

II

Ray era observador, gostava muito de observar...

"Um dia ele levantou-se e gravou numa fita tudo o que as pessoas diziam na rua.
Passou o dia às voltas, a entrar e a sair de autocarros e a entrar em todos os grandes estabelecimentos. Depois voltou para casa.
Gravou coisas como:

Nunca, talvez sim, isso também me interessa, tudo o que quiseres e por agora nada, continuo à espera, não acredito que tenhas forças, dou-te amanhã, não há dinheiro, não há dinheiro, não há dinheiro, vai-te embora, vem, vai-te embora, volta, estou sozinho, já não me interessa, ganhámos, tu dizes-me cada coisa, corre, corre, corre, demasiado tarde, demasiado cedo, tivesses dito, outra vez sozinho, se não fosse tão bonito, deus sabe que tentei, ninguém sabe quanto, não me ama, um trabalho novo, sapatos novos, carro novo, quase nem posso mexer as mãos, sou jovem, já não sou tão novo, que esquisito, sozinho, se não chover ou se calhar chove... e no princípio e no fim da gravação:

Amo-te, já não te amo."

Ray Loriga

Nada era Claro!
Sabia que as (nossas) preferências mudam muitas vezes... E que a poesia só tem magia se não for clara.
As suas palavras preferidas estavam contidas na vida!
Aliás, quando observou Clara conheceu-lhe o silêncio eufórico de quem perde (a timidez)...
Sim, Clara estava habituada a perder....

E, mais uma vez, Ray observou que o mundo, é tudo menos Claro!

(ganharam-se um ao outro _ por quanto tempo, não se sabe...)


1 comentário:

An@ disse...

Uma constante alteração e mudança de ideias, momentos, planos esituações que a própria vida nos sujeita. É bom ir mudando as coisas mas também é bomk sentir alguma firmeza e orientação.

Nem tudo é claro quando a clareza parece chegar. Clara pode ser um nome ou, simplesmente de uma vontade de nos aproximarmos de algo mais nítido na vida...que parece nunca chegar a ser demasiado claro/claro o suficiente.

*beijinhos*