sábado, janeiro 24, 2009





Estava a chover muito. Ficámos em casa. Apeteceu-me ligar a televisão, por acaso.
O programa tinha um tema : “Existirá amor para sempre?”
Talvez seja um pouco céptica em relação ao amor. =)

Vale a pena ver :(http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=23283&formato=flv)

Gosto muito da entrevista (a partir) do minuto 28.


Vi isto no dia em que se assinalavam os 20 anos da morte de Salvador Dali…
Tal como este autor, do amor destacam-se duas características marcantes: a loucura e a genealidade…

E destacar-se-á também a "persistência da memória"? =)

"para qualquer artista - para qualquer pessoa - pode acontecer passar-se o tempo sem se entender o porquê e o objectivo daquilo que fazemos. o momento da verdade, quando chega, se chega, pode não mudar tudo, mas dá mais precisão e potência às coisas. para Andrew Bird isso aconteceu quando chegou à conclusão de que a sua profissão não era ser músico, não era verdadeiramente ensaiar ou sequer tocar, mas antes 'sonhar acordado' "...
in Ipsilon

sexta-feira, janeiro 23, 2009


Hoje assinalam-se os 20 anos da morte de Salador Dalí - exponente máximo do surrialismo.
Dele destacam-se duas caracteristicas marcantes: a genialidade e a loucura...

Um dos seus quadros mais famosos, "A Persistência da Memória" (1931), é uma obra sobre a importância do tempo e da memória no ser humano. Contudo, segundo o artista, este quadro resulta (apenas) de uma reflexão sobre a natureza do queijo Camembert...

O senso-comum associa o queijo ao esquecimento =)

Gala, a sua companheira, quando viu o quadro previu que quem o visse jamais o esqueceria.

Em Hollywood vão fazer três filmes sobre a biografia de Dalí, cada um com a sua perspectiva...

Continua....

terça-feira, janeiro 20, 2009

À espera das abertas

Ouve-se um "beep" à distância de um estender de braço. Já houvera outro que o ouvido não conseguiu captar pela distância e embalo do sono pesadamente leve nos últimos tempos...
Num saltitar de dedos e palavras encontra-se uma chamada de retorno... sabe bem ouvir alguém do outro lado a animar um dia com uma luz mais fraca e, uma casa silenciosamente fria.
Entre um aquecer de uma caneca de leite e o bater de uma colher a rodopiar na caneca, chega-se ao final da chamada. O frio intensifica e chama a um banho quente e aconchegante.
Enche-se o corpo do entusiasmo de calçar umas botas para o frio e o chão molhado da rua e sair por aí... Calça-se a primeira e quando se assentam os dois pés no chão... vê-se pela janela o vento e a chuva que cai dura do céu... deixa-se cair o corpo para trás e adia-se a saída para mais tarde, esperando no conforto de umas pantufas quentes e mais leves.

O tempo parece que não avança e parece que o mundo não existe lá fora... tudo em pára...sóa a chuva continua a cair!

Entre músicas e pensamentos a chuva parou aos poucos! Espera-se uns minutos para garantir que não vai aparecer novamente... e soltam-se uns raios de sol. Termina-se o que estava quase a terminar-se e, novamente as botas encaixam nos pés. Pegar num agasalho e preparar para a saída... antes de uma chegada à porta de saída... aparece graniso caído do céu a fazer um barulho incómodo e de alarme a "não sair"!!
O caminho da saída torna-se no caminho de regresso e as botas perdem o andar e encostam-se tristes, ao armário do canto. O único meio de transporte permitido ali ficou, encostado à espera da oportunidade que não chegou.
As horas passam e nada parece facilitar a saída na busca de uma rua qualquer, de um caminho qualquer... sentir o fresco da rua sem que a chuva invada ...

Nada avança, tudo recua ...

Deseja-se que o amanhã se aproxime com um céu menos pesado para que o chão se possa pisar, sem tecto e sem pantufas, mas com umas simpáticas botas de borracha para chapinhas em todas as poças de água que restarem de hoje.

Até lá, talvez uma fuga rápida ao outro lado da rua, na companhia de outro par de botas de borracha no percurso, e companhia para conversa que preencha o espaço e conforte a relação familiar!

Amanhã é outro (longo) dia!
E a vida parada no tempo...

segunda-feira, janeiro 19, 2009

O que te agarra?


"Vá para fora cá dentro"

Sempre foi uma expressão que ligo às publicidades nos "outdoors" de uma rua qualquer. Mas parando até tem o seu quê de utilidade e encaixe em umas quantas situações que podem e acontecem com muitos.

O novo ano tem sido uma constante andança! Ora mais para sul, ora mais para norte... entre comboios, expressos, um carro, estradas paralelas e a direito, ou estradas com mil e uma curvas que baralham qualquer orientado. A verdade é que se encontram tantas caras, tantos lugares que começam a ter "um ar" mais familiar e, os passos são um pouco menos apressados, deixando que os olhos possam acompanhar a paisagem, seja ela qual for.

No pequeno país em que se vive e tanta coisa completamente desconhecida que, lança o cheiro de uma possibilidade de mudança, lança a esperança de uma nova etapa e nova conquista que...teima em ser uma constante e desesperada caminhada em que só o tempo avança.
Entre o sol que vai espreitando em alguns lugares e o frio e chuva que regelam a ponta dos dedos... lá se vai caminhando... na esperança de alguma coisa que não chega!

Estas coisas de crescer e tal... tarefa complicada é deixarem que possamos dar o salto, não é a falta de vontade!
Tentamos sair de dentro do nosso pequeno mundo mas paramos sempre dentro do mesmo jardim que fica bem dentro dos quatro muros que são... a nossa casa! LOL

Época de Saldos

Os saldos!!

Mil e umas quantas pessoas a "sariquitar" para a frente e para trás, à procura das quedas de preços nas peças que tinham visto mas eram mesmo caras e, agora, pufff, baixaram e é a melhor época para adquirir e arriscar comprar.

A vida com saldos... questiono-me seriamente que saldos poderia ter a vida. Haver uma época "pré-determinada" para se conseguir alguma coisa com um custo mais baixo (custo implica aqui um esforço, uma consequência, ...). Correr um risco mais baixo porque agora, está em saldos, custa menos dar X por isto ou por aquilo.

Acabaria por se verificar que a maior parte das situações aconteceriam na melhor época, onde o risco fosse menor: os saldos.

Mas, os saldos são uma coisa temporária, não dura uma vida. E diga-se que desaparece tudo num ápice: ou se é rápido ou não se encontra o número que melhor nos cai... nestas alturas pode pensar-se se valea pena arriscar no número certo mas com um preço mais alto ou se se arrisca poder ficar sem nada. Ora na vida... ou bem se arrisca no momento certo ou então não se vê o mesmo comboio passar duas vezes seguidas naquela questão de segundos (até porque, ele não anda ao sabor das pessoas: uma questão de 1minuto pode fazer com que se esteja atrasado ou se consiga chegar a horas, meros segundos têm também esse poder).

Ora... porque perder a oportunidade por eu depois vejo?? Há momentos que
precisam apenas de um passo em frente, ainda que no escuro, mas naquele exacto momento para que tudo avance por ali. Perdem-se tantas oportunidades por se achar que temos mais oportunidades de "adquirir" o que queremos por agora não quero pensar nisso, depois. O depois que acaba por, algumas vezes, não ser "número" que sirva para o caminho que era suposto seguir. Pode haver o número abaixo, que aperta e é totalmente desconfortável, além de não deixar ar para respirar; ou o número acima que, tem tanto espaço que fica por preencher e ... sente-se o vazio, o vento a passar por entre as abertas...



Os saldos... a época certa para facilidades em abrir "os cordões à bo
lsa", sempre na mesma altura e sempre com as mesmas características;


Os saldos, as facilidades... acho que não se marcam na agenda, simplesmente ou aproveita o que se tem ou... já era! Se bem que ainda há umas quantas "promoções" que possam surgir e ser bem aproveitadas... resta saber aproveitá-las!!







Muitas maneiras de se poder ver os "saldos" para além das peças de roupa... lol

domingo, janeiro 18, 2009

Também sou a Inês esquecida...



Na verdade não existem ideias pré-concebidas. As ideias são e serão sempre concebidas.



Numa primeira impressão disseram-me que sou eloquente a falar;

Em várias impressões minhas, sinto que devia colocar mais eloquência na minha vida.



Palavra do dia - eloquência: faculdade de falar de tal modo que se consegue dominar e empolgar o auditório; ser expressivo e convivente; talento de persuadir, de deleitar ou comover, falando;

Concebo-me como uma pessoa menina... que não acredita em Homens perfeitos... que acha que nós somos nós e as nossas circunstâncias...gosto de sorrir.. aliás,gosto muito de sorrir naturalmente despercebida, de emoldurar a felicidade no rosto para oferecer...Sou feliz com as coisas mais simples... não peço muito...finjo não acreditar no amor mas convenço poucas pessoas disso...Choro raras vezes...fico triste umas tantas. E também fico zangada... sempre fui muito envergonhada... em pequenina os vizinhos chamavam-me cara linda e eu nunca percebi bem... adoro filmes. E inventar finais precoces... quando andava na primária sonhava em ser escritora...Gosto muito de invernos aquecidos à lareira...Não sobrevivo sem pastilhas...Tenho medo...Já aprendi muito mas ainda tenho muito mas muito mais para aprender... Resisto um bocadinho às mudanças mas quero estar sempre aberta à sua possibilidade...Sou muito distraída e às vezes até acho que é a minha imagem de marca... e também caio muito...e tenho uma dificuldade enorme em decidir...Tenho pena de não ter raízes... Esqueço demasiado...Se calhar sou um pouco desprendida para algumas coisas...Tenho dificuldade em receber elogios sem retribuir...Queria ser mais alta... e mais magra.. mas já aceitei ser como sou... e nos dias bons gosto muito de mim...De vez em vez tenho ataques de teimosia... tenho a estranha mania de não querer incomodar ninguém tornando-me numa cerimoniosa de merda...Sou contida...desbocada...transparente...ás vezes...gosto muito da palavra às vezes... Idealizo muito... Questiono... e fascino-me com conversas....sabe-me bem perder-me nelas.. sabe-me bem cházinho quente antes de dormir... Acredito que as palavras nunca se gastam... e são metade de quem as diz e metade de quem as ouve....Preciso muito de partilhar...e acho que também preciso de eloquência na minha vida! Preciso de me convencer de quem sou...preciso de me convencer que hei-de sempre "ir sendo"...
Descubro-me todos os dias...
Descubro-me com os outros...
"Preciso que me reconheçam; que me digam Olá e Bom dia. Mais que de espelhos preciso dos outros para saber que eu sou eu"
(Adília Lopes)

domingo, janeiro 11, 2009

" Terra dos sonhos"



“Um dedo tocou sobre os meus lábios
É uma manhã de saudade
(...)
O mundo acorda com pressa
E em breve será recompensado
Com esperanças de que melhores dias virão
é uma manhã de saudade
Um outro dia, uma outra oportunidade
Mas eu continuo aprendendo
(...)”

Uma vez contaram-me de uma escultura cujo molde era o espaço mínimo, indivisível, existente entre duas mãos que se apertam.

Afinal há sempre intervalos por completar nos vínculos que pensamos querer cerrados…

A fusão deste “abraço” manual capaz de unir, de aproximar (ou até de colmatar a ilusão momentânea de ligações perfeitas) gera sempre interstícios quase invisíveis…

Nesta “obra de arte” preenchem-se as fendas com halos de matéria, contrariando a imutabilidade das circunstâncias, personificando a possibilidade de ajustes, de encaixes progressivos…

Hoje pode ser uma manhã de saudade…

De uma manhã onde as mãos reconheciam (lentamente) o início de um qualquer embutimento afectuoso…numa escultura de vida...

Esta é a minha manhã de saudade!

quarta-feira, janeiro 07, 2009

De/Sem saída

Estou de saída. Carteira, chaves de casa, o telemóvel e um casaco quente para afastar o frio que a rua assegura ter pronto para quando a porta se abrir, no fim da escadaria. Chegas antes que a primeira porta se abra, já estava pronta e decidida a sair, sem promessas de um regresso breve. Bates à porta e entras, sem ter tempo de a abrir. Esbarras de frente com a mesma calma com que soltas um ar calmo enquanto expulsas cada uma das palavras que são articuladas pela tua boca, na lentidão do respirar. Não me mexi, não consegui respirar, não consegui fazer nada... petrifiquei naquele mesmo chão, naquele mesmo lugar... sem sair um único movimento de todo o meu corpo. Convidas-me a sentar no meu espaço, que não reservei para ninguém, apenas para mim, após o segundo da decisão da saída.

Prendes-te no meu olhar sem pressas e obrigações... incomodas-me!
O teu olhar espicaça-me a tranquilidade. Não consegues deixar de sorrir enquanto me olhas ali, de frente e confortável no canto que escolhes-te para te acomodares... ainda não me consegui mexer.
Esbate-se um frio rápido e gelado que me deixa cair no chão, sentada, com toda a tralha que estava pronto. Tudo fica seguro no colo, sem se afastar muito de mim. Fiquei sem saber nada.
Apetecia-me cumprir tudo e sair assim mesmo, deixar-te lá e sair comigo. Mas... chegaste tão ao teu jeito que me prendeu no chão mais uns momentos.
Não soltei uma única palavra, não esbocei uma única expressão (diferente da primeira que permaneceu).
Quando vais perder essa mania de me fazeres ficar (??) mesmo sem saber porquê ou até quando?
Marie Claire...

Perdidos e Achados


Guardei ali, bem juntinho, naquele lugar que só eu sei chegar depressa e directo. Guardei para saber onde está, para encontrar quando quiser ir buscar, para recordar quando tiver vontade...
Guardei e ficou escondido, de todos e de tudo. Será que de tão bem guardado se pode perder na segurança do lugar?
E se eu quiser perder aquilo que guardo? Onde deixar? Não se consegue perder nada se for deixado propositadamente... quando se perde não se esquece o que se perdeu (quase sempre).

Segurar num monte de coisas e ir perdendo num caminho que não se sabe onde leva e termina-se perdido na rua "de ninguém" à procura de "sabe-se lá onde" e sem "tudo o que se guardou e se quis perder" e depois? ... depois perde-se o tempo.


Queria guardar mas não sei onde! Queria perder mas não sei onde perder sem achar! Dentro de um espaço puramente grande mas tão pequeno que se tropeça naquilo que mais se conhece e menos se quer encontrar.
Perco-me na perdição...
Queria perder e sem guardar; guardar e não perder; ...

uma constante contrariedade de achados e perdidos que o tempo não esvazia ou enche...

Achei aquilo que perdi... e guardo aquilo que foi perdido... encontrei um recado final, perdido no chão e achado por mim:



Achavas que me tinhas perdido mas... encontras-me sempre que me perdeste!

Do teu sempre,


Achado e Perdido

terça-feira, janeiro 06, 2009

Um segredo que será momento


Abre-se a porta... beeeeeeeeeem devagar! Arrastada por um vento surdo e levemente forte mas muito discreto. Entra qualquer coisa. Caminha bem leve, a percorrer todo o espaço perdido e solto naquele lugar, leve e lento, pintalgado de branco liso e puramente limpo.
Arrepia a proximidade que torna a ansiedade num bichinho irrequieto preso e a rodopiar o umbigo, sem deixar de comichar as entranhas. Ouve-se aproximar-se a boca que sopra no ouvido qualquer coisa... chegou! O ouvido escuta calmamente nervoso cada som, cada palavra e cada leve respirar.
Chegou o segredo que veio para ficar até deixar de o ser. Segredos contados e que deixam de ser "só segredo de si" e passam a ser um segredo nosso! Nosso... (solta-se um leve sorriso no rosto)... é nosso. E um dia será desvendado e perderá o segredo, o nervoso miúdo que faz comichar. Cresce, acontece e "plim!" numa questão de piscar dos olhos todos conhecem o segredo como um momento, algo que está acontecer! E este sim... é bom! Um segredo tão bom que deixa sair um sorriso patetamente feliz e felizmente alegre.

Agora, fecha-se a porta, bem devagar, para ninguém entrar até que o segredo se torne momento e o momento se torne alegria ... o NOSSO segredo e o V(N)OSSO momento.

Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Fecha-se a porta e espera-se que chegue o momento!

segunda-feira, janeiro 05, 2009

(Re)Começar


Abre-se um capítulo com páginas em branco, à espera que venha a cair uma caneta e derrame tinta que faça contornar palavras que definam e revelem o que a vida vai traçando e desenhando cada momento e mudança.
As mudanças foram desenhadas, a preto e branco, sem grande novidade e surpresa. Sensações à flor da pele que fazem um filme constante de uma casa exactamente igual mas com espaço a mais... espaço por preencher, um silêncio incómodo que se vai fechando apenas numa divisão fechada, para fugir à enormidade dos espaços.
As decisões invadem casa entranha e irritam a pele nervosa e amedrontada pela folha de papel branca e limpa... pensamentos a vaguear pelos corredores de um pensamento constantemente atribulado, irrequieto...

Passam pela porta da decisão e da determinação e percorre a rua do medo, das saudades e inseguranças...

"Daqui ali" é um passo até chegar à loucura, à vitória derrotada...

Sente-se na pele o crescer por dentro e naquilo que rodeia...
Abre-se a caixa dos "podia ser" mas na realidade, não é! Nuvens das questões e das distancias que amedrontam quem fica e brilham no olhar de quem vai e quer ir...



Tempos de mudanças, de contrastes e desiquilibrio equilibrado na corda bamba... tempos e tempos, mudanças e mudanças, sonhos e realidades... uma luta!!!
Saudades daquilo que sempre foi e agora não é...
saudades da cara familiar dentro do espaço tão seu e tão nosso... passa-se de um "nós" para um "eu e tu lá longe"... espero-te a chegar de algum lugar, a horas mais tardias mas a porta não abre... acordo sem te encontrar no sítio do costume... mas encontro-te no teu lugar de sempre..."cá dentro"!!!
Ainda assim, sente-se o amor no corredor de cada hora que passa dentro deste espaço "nosso" mas agora todo para mim... quero partilhar mas não estás ... ficamos assim e ... boa sorte!




Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem.

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum DAR-SE de outro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou EU só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou EU só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou EU só, e mais ninguém.

DÃO-SE os lábios, DÃO-SE os braços
DÃO-SE os olhos, DÃO-SE os dedos,
bocejas de mil segredos
DÃO-SE em pasmados compassos;
DÃO-SE as noites, e DÃO-SE os dias,
DÃO-SE aflitivas esmolas,
abrem-se e DÃO-SE as corolas
breves das carnes macias;
DÃO-SE os nervos, DÁ-SE a vida,
DÁ-SE o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
DÁ-SE TUDO e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este OFERECER-SE de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este DAR-SE, este ENTREGAR-SE,
DESCOBRIR-SE, e DESFLORAR-SE,
é NOSSO de mais ninguém!

António Gedeão