terça-feira, maio 24, 2011

Quando tombamos é sempre para o lado

Ele descia as escadas lentamente numa marcha impotente, dolorosa. A mobilidade do corpo reflectia também a sua expressão. Pausada, quase apática. A precisar de suporte.

Ela ia do lado direito a agarrar-lhe a mão. Notava-se na sua voz que acreditava na volupia das palavras como marcadores entendíveis, geradores de bem estar. Fazia-o empaticamente e não minto se dizer que se lhe adivinhava alguma pena no olhar. Zelava como podia. Com cuidado, emanando carinho e diria até conseguir transmitir alguma leveza áquele corpo rígido e pesado. Assim, apenas por ser quem era. Calma!

Do lado esquerdo ia a outra. Quase que a morder o lábio por dentro. Estava ali como que a mostrar qualquer coisa a ela própria. Senhora dos desafios, que não podia deixar nada a meio. Encarava-o, sem saber, como um vitória pessoal, algo que conquistaria, a percepção de se dedicar a grandes causas e ostentá-las como resultado da sua competência. Uma espécie de esforço sobrehumano que só alguns tinham e da qual ela se orgulhava de fazer parte.Pouco olhava para ele. Olhava em frente, não fora aparecer algum obstáculo que a impedisse de levar a cabo a sua nobre tarefa.

E ele caminhava assim. Apoiado por estes dois "braços"...



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