E de repente… tudo parecia incontrolável e apareceu a impotência perante a morte!
O limite da vida deslizou por baixo dos pés como se fosse um ribeiro de água a brotar do chão, sem aviso ou som…a deslizar e fazer escorregar todo o pé e coisa que lhe tocasse. Transparente e silencioso foi descendo pelo ribeiro, o sentimento.
Desceu pela rocha da memória, serpenteou pelas palavras guardadas em papel, no peito ou, simplesmente na memória. Chegou a um pequeno lago de lamurias e arrependimentos, de incertezas e segredos…até seguir por um fiozinho leve de alguma fé e…perdeu-se, rapidamente no mar, extenso e infinito, que se mistura com o céu num horizonte distante e confuso ao olhar…o horizonte do limite ilimitável da visão!
E de repente…
Parecia trazer às costas a responsabilidade de um sábio, a obrigatoriedade das palavras que confortam e a certeza de que era obrigatório ser-se mais forte que a força. A mochila foi pesando a cada dia, hora, minuto e segundo…as imagens e os sons vindos do coração dos outros pareciam encher, como balão de ar, o espaço pequeno no qual pouco cabia…estava quase a rebentar…o fecho, a costura forte, as alças que se abraçam nos ombros e deslizam pelas costas até confortarem num laço…
tudo parecia incontrolável e…
a mente pressionava o coração que palpitava descontrolado, esperneava a alma agarrada pelo pensamento maior e pelos olhos fechados a tentar que tudo fosse uma máquina e que o comando fosse apenas e somente o pensamento obrigatório… estava difícil a mente controlar todo o resto… foi ralhando a mente com os olhos abertos que pousavam no chão da calçada de uma “cidade fantasma”, onde as portas tinham números, as ruas tinham paragens mas não tinham nomes e…onde um silêncio gelado entrava pelos mínimos espacinhos entre a roupa e o corpo.
apareceu a impotência perante a morte!
O coração ficou tão pequeno mas tão concentrado que ouviu o chorar desmedido de quem nos conforta o coração! A morte chegou aquela vida que, ali, agora, estava desfeita em lágrimas e tristeza sem limite…tal como o mar, perdido no horizonte que vai para além do que se vê! Caem lágrimas de dor…não a mesma dor de quem sofre a perda mas, a dor de que a morte chega e nos deixa de mãos atadas, de boca sem palavras, olhar sem fundo…e resta apenas o conforto de um abraço que parece sempre durar tão pouco e ser um grão de areia naquela praia!
E de repente… tudo parecia incontrolável e apareceu a impotência perante a morte… e vamos sempre ficando vivos, sem saber quando será o próximo “de repente impotente”.
Vamos à cidade fantasma onde moram pessoas que dormem um vida inteira, para além da que viveram acordadas…uma cidade que não tem vida mas tem flores com cores vivas; uma cidade que tem portas mas não tem janelas; que tem ruas mas não têm nomes e…só os números vão sendo o código que poderá dar lugar a um nome de alguém que ali fica…fechado…mas não é esquecido! Porque a morte dói a quem vive e não a quem morreu!