sexta-feira, janeiro 29, 2010

E se todos os “olás” escondessem trocadilhos?

Ás vezes tenho esta estúpida mania de romancear a vida e as coisas que nela podem acontecer. Mas estou certa de que não sou uma romântica. E estou também certa de que me acontecem coisas (algumas mesmo curiosas) tal como vão acontecendo coisas a todos nós, mas que eu gosto de coleccionar como os meus momentos verdadeiramente imprevistos...



Estava de regresso do Porto, erguida na penumbra, enquanto se augurava a vinda do Comboio...
Passa por mim um Senhor e olha-me fixamente nos olhos enquanto eu finjo que não me apercebo... E faz a ronda uma e outra vez, até que decide interpelar-me com um: "Vamos para Lisboa"?
(Como se desejássemos todos ir ao encontro da nossa capital privada, como sinónimo de mais oportunidades, da fuga das pequenas rotinas)


Franzi o sobrolho na tentativa de fazer a carantonha mais assustadora que conseguia (pensando para mim mesma: Confirma-se: só atraio deficientes, velhinhos e... doidos".

E continuou: "Se eu tiver uma boa viagem, também vai ter"
(Como se esta coisa de dependermos uns dos outros fosse mesmo verdade!)

Deduzo que a minha cara tenha desprendido uma expressão ainda mais assustadora mas não resisti em responder: "Mas o que é que o senhor quer?")
(Esta estúpida mania de não sabermos esperar, de desconfiarmos de tudo o que não seja expectável e impormos barreiras em tudo o que não nos é familiar. A velha história de associarmos o termo viagem a esta coisa que tem o nome de vida e que teimamos em querer sempre que seja boa.)

Não me respondeu mas depreendi que quisesse um pouco de conversa trivial e assim foi.
Quando o comboio chegou despediu-se rapidamente dizendo que tinha que ir para a frente.
(aliás, queremos sempre todos ir à frente… sempre em frente…)

“ Eu disse-lhe, se eu tiver uma boa viagem também vai ter. Posso conduzi-la?” – Disse ele e desapareceu em passo rápido.

(Sim, era o maquinista. Sim, às vezes tenho mania de romancear a vida, como se fôssemos sempre conduzidos por outros e condutores de outros. Sim, às vezes aparecerem-nos só pessoas simplesmente à procura de vida. Porque viver é dizer “olá” a tudo o que nos aparece sem grandes barreiras).

Mas eu nunca fui romântica… E segui viagem…

2 comentários:

Anónimo disse...

Tu não és Romântica??^
Humm.. és uma romântica especial.. és uma romântica nas coisas mais pequeninas, e nas coisas mais simples da vida =).. eu gosto muito =)

BJ
T

An@ disse...

Adorei! E adoro ver os teus "filmes", darias uma óptima realizadora, actriz e tudo mais... és realmente um saquinho mágico, isso faz de ti uma pessoa mesmo mesmo especial... e faz-me ter sempre saudades do nosso tempo:) Faz com que tenhas sempre o teu cantinho aqui dentro e que, apesar dos raros encontros pessoais nos possamos encontrar aqui e adorar sentir-te pertinho * beijinho enorme