As situações bizarras aparecem, sorrateiramente, como se pedissem a nossa atenção desmesurada. Captam-nos todos os sentidos como se ficássemos absorvidos na irrealidade. Há como que uma especie de paralização de realidade que nos envolve e nos faz questionar a vida.
Pois não é que vejo eu (numa missa numa das nossas ilhas) uma Senhora (pequenina e encurvada, de cabelo quase rapado e que à primeira vista identifiquei como uma turista asiática - pouca precisão e prespicácia a minha bahhhh) a passear-se por entre os bancos com uma máscara sobre a cara, evidenciando-lhe o receio da contaminação. Pôs-se à frente das pessoas a bater o pé como se se tratasse de um simulacro de tourada. Tinha jeito a mulherzinha, uma vez que também fazia barulho e tornava o gesto bem imponente com as mãos em riste sobre a anca!
Depois, continuou a sua avante importunando quem lhe surgisse à frente,até que chegou a uns miudos. Tocou-lhes nos ombros pedindo-lhe atenção e, num gesto brusco de surpresa tira a mascara que a protegia da gripe, coloca a mão dentro da boca e... como se de um truque de magia se tratasse... tirou a dentadura de forma gloriosa. Tinha um acentuado défice na dentição superior a mulherzinha (foi a sensação (se quiser ser delicada e usar um eufemismo para certeza =)) que me deu ao longe).Depois, acabou o espectáculo com uma vénia e em seguida perdia-a de vista. Tudo em silêncio!
Aprendi (para além de que sou capaz de me distrair na missa e que as máscaras usadas para a gripe A têm outros usos criativos) que estamos sempre a mostrar coisas nossas, a desvendar-nos silenciosamente a quem nos aparece à frente, de forma intencional (ou não). Que muitas vezes nos ridicularizamos sem a menor noção disso e que outras tantas ridicularizamos peremptoriamente o que nos rodeia.
Sem questionarmos a vida...
Sem que ela nos justifique a sua "normalidade"...