terça-feira, janeiro 15, 2013

Testamentos

Gostava de fazer um testamento... fazer deve ser escrever, talvez! "Gostava de escrever um testamento"
Segundo o dicionário online testamento é
"1. Acto solene pelo qual se dispõe, para depois da morte, de todos ou de alguns bens próprios.
2. [Figurado]  Escrito longo (carta, relatório, descrição, etc.)."

Porque raio um testamento tem sempre como rótulo o "distribuir bens materiais, dinheiros, terrenos..." por pessoas?!
Pensei bastante sobre a morte nestas últimas semanas, dias... e chego à conclusão que... teria dificuldade em fazer um testamento... ou faria muitos ou um que, nem o que resta da vida serviria para o terminar... ficaria SEMPRE em aberto! Passo a explicar porquê...

Vagueei por imensos pensamentos e... quando a morte de alguém nos cai mesmo em frente, é sempre aí que nos recordamos que, afinal nada é eterno senão o nosso "guardador de memórias": o coração! Lembramo-nos também que, afinal, esta pode ser a última vez que vemos ou falamos com alguém...a última vez que abraçamos ou dizemos adeus! Pensamos no quão curta a vida pode ser, quando partilhamos com alguém que nos escapa por entre os dedos... que queremos que todos os amigos saibam que os amamos, sem que seja preciso dizer... pensamos tanta coisa mas que... é impossível realizar, concretizar... e se vivermos atormentados com medo do amanhã que poderá não vir, passa a vida por nós e nada fica feito para recordarmos e aproveitarmos com os demais.

Assim, o meu testamento seria diferente (se é que já alguém terá pensado nisto). Queria fazer um testamento em que os meus "bens" fossem distribuídos por todos os que fazem parte da minha vida. Queria distribuir os meus sentimentos, distribuir os meus sonhos, os meus medos e até as minhas utopias. Distribuiria a minha memória e o meu descanso... os meus lugares favoritos e até coisas como: o meu olhar, o meu sorriso, os meus imeeeeeeeeensos abraços... mil beijinhos, as minhas cócegas e os meus saltinhos... distribuiria até a minha voz... fosse falada ou a cantar... os meus mais sinceros conselhos e as palavras acolhedoras que poderia ter . Sei lá... distribuiria cada dia que vivi, por cada pessoa que fez parte dele, fosse em pensamento ou em presença. Era isto que queria que fosse o meu testamento. Deixar algo que realmente valesse e pudesse durar para sempre na vida das pessoas, sem se estragar ou perder valor... há maior valor do que darmos tudo aquilo que somos e faz de nós pessoas especiais e únicas?!
Os bens materiais, esses, alguém saberia o que fazer com eles... tenho em mim que as minhas roupas iriam satisfazer o aconchego de qualquer rapariga adolescente, os meus livros deixariam qualquer criança apaixonada por histórias, deliciada de prazer aos vê-los e poder ficar com eles como um pequeno tesouro; os materiais de artes plásticas e outros que tais uuuuuuuuuuuuuuiiii... ótimo para qualquer amante de trabalhos manuais (miúdo ou graúdo) e o terror para uma casa em que as paredes fossem desafiadores a um ato decorativo... o meu carro (aiiii... esse meu amor) bom... haveria de encontrar, espero, alguém que o amasse tanto e se divertisse tanto a viver como nós dois; CDs, rádio, ... tecnologias... bom... eu acho MESMO que alguém iria resolver essa questão em pouco tempo ou, pelo menos, com um destino que, melhor do que eu a prever seria o ato de encontrar onde poderia tudo morar. Mas... todo o material acaba por ter um fim, por ficar "fora de moda", por se estragar, perder-se e... tudo aquilo que queria deixar num testamento ficava com quem quisesse guardar: na memória e no coração! Bolas, estarei eu nalgum lugar para vos ver receber e recordarem-se de tudo? (Espero bem que sim!) Não queria ver o sofrimento, seria doloroso estender a mão e não conseguir confortar ninguém... queria mesmo poder sentir que sentiam realmente o testamento que vos deixei e tudo o que de maior valor vos doei... EU!!!

Bom... o ideal ideal, era conseguir (e agora o impossível!) escrever a cada pessoa que fez, faz e fará parte da minha vida! Um testamento personalizado... nem sabia bem como começar e, lamento informar mas, os bens doados não seriam exclusivos...sim, porque eu tenho muito para distribuir por aqueles que moram "cá dentro"! Chega para todos o que eu poderia dar de mim. Seriam testamentos enormes, consoante o tempo na minha vida, e teria que estar em constante atualização... bolas! Seria um trabalho imenso mas... no final... no meu final, acho que, mesmo incompletos, valeria a pena! Tudo para no final... no meu final... ter a CERTEZA de que foi por mim e de mim que receberam e aquilo que vocês sabem que eu tinha guardado para vocês mas... porque a vida é a correr e nem sempre as palavras saem... nunca disse vezes suficientes! Apenas senti... mas senti com muita força... que amo quem se sente amado por mim, por vezes mais do que possam imaginar!

Por isso... já que um testamento personalizado não deve conseguir chegar... chegam as palavras, ainda por cá, pela Terra, onde estamos só de passagem, para dizer que:

deixo os meus bens a todos os meus amigos e a certeza de que cada um sabe ler o seu testamento em cada gesto meu, cada olhar... cada bem que eu tenho e que faz de mim quem eu realmente sou!


Este post pode soar de forma estranha mas... era uma coisa que tinha "dentro de si só" e que... precisava escrever "num papel de parede" para me lembrar e vos lembrar também que... doamos um pouco de nós a cada dia e cada pessoa!


Foto: 15 de Maio de 2010  - "Há imagens que valem mais do que mil palavras"
Há Amigos e Abraços que ficam para sempre! *

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