terça-feira, novembro 27, 2012

...É certa!


E de repente… tudo parecia incontrolável e apareceu a impotência perante a morte!
O limite da vida deslizou por baixo dos pés como se fosse um ribeiro de água a brotar do chão, sem aviso ou som…a deslizar e fazer escorregar todo o pé e coisa que lhe tocasse. Transparente e silencioso foi descendo pelo ribeiro, o sentimento.
Desceu pela rocha da memória, serpenteou pelas palavras guardadas em papel, no peito ou, simplesmente na memória. Chegou a um pequeno lago de lamurias e arrependimentos, de incertezas e segredos…até seguir por um fiozinho leve de alguma fé e…perdeu-se, rapidamente no mar, extenso e infinito, que se mistura com o céu num horizonte distante e confuso ao olhar…o horizonte do limite ilimitável da visão!
E de repente… 

Parecia trazer às costas a responsabilidade de um sábio, a obrigatoriedade das palavras que confortam e a certeza de que era obrigatório ser-se mais forte que a força. A mochila foi pesando a cada dia, hora, minuto e segundo…as imagens e os sons vindos do coração dos outros pareciam encher, como balão de ar, o espaço pequeno no qual pouco cabia…estava quase a rebentar…o fecho, a costura forte, as alças que se abraçam nos ombros e deslizam pelas costas até confortarem num laço…

tudo parecia incontrolável e…
a mente pressionava o coração que palpitava descontrolado, esperneava a alma agarrada pelo pensamento maior e pelos olhos fechados a tentar que tudo fosse uma máquina e que o comando fosse apenas e somente o pensamento obrigatório… estava difícil a mente controlar todo o resto… foi ralhando a mente com os olhos abertos que pousavam no chão da calçada de uma “cidade fantasma”, onde as portas tinham números, as ruas tinham paragens mas não tinham nomes e…onde um silêncio gelado entrava pelos mínimos espacinhos entre a roupa e o corpo.

apareceu a impotência perante a morte!
O coração ficou tão pequeno mas tão concentrado que ouviu o chorar desmedido de quem nos conforta o coração! A morte chegou aquela vida que, ali, agora, estava desfeita em lágrimas e tristeza sem limite…tal como o mar, perdido no horizonte que vai para além do que se vê! Caem lágrimas de dor…não a mesma dor de quem sofre a perda mas, a dor de que a morte chega e nos deixa de mãos atadas, de boca sem palavras, olhar sem fundo…e resta apenas o conforto de um abraço que parece sempre durar tão pouco e ser um grão de areia naquela praia!

E de repente… tudo parecia incontrolável e apareceu a impotência perante a morte… e vamos sempre ficando vivos, sem saber quando será o próximo “de repente impotente”. 
Vamos à cidade fantasma onde moram pessoas que dormem um vida inteira, para além da que viveram acordadas…uma cidade que não tem vida mas tem flores com cores vivas; uma cidade que tem portas mas não tem janelas; que tem ruas mas não têm nomes e…só os números vão sendo o código que poderá dar lugar a um nome de alguém que ali fica…fechado…mas não é esquecido! Porque a morte dói a quem vive e não a quem morreu!

domingo, setembro 30, 2012

No meio dos papéis...



A felicidade constrói-se no dia a a dia. Guarda aquilo que sentes, que foi o melhor que ganhaste da "True Story". Porque o final esse ainda vem muito longe. Agora é aguardar com a calma e tranquilidade possíveis. E entre lágrimas e risos (como ontem) a vida vai avançando e talvez nos leve a algum lugar mágico onde os sonhos se tornam realidade. 
Porque o nosso coração alimenta-se de pequeninas coisas que a vida nos dá. (...) 
Isto para dizer que EU estou AQUI!

Beijinhos Grandes


Passado um ano e tal... reler esta carta de uma amiga faz-me sorrir e ver que...ela está mesmo "aqui" desde aquela altura!

terça-feira, julho 03, 2012

Once upon a time

Tic tac, tic tac... passa o tempo a correr sem que se verifique o avanço a passo acelerado com que passa. Olha para datas que remontam a tempos, dias, semanas, meses passados e a vergonha de não deixar uma palavra, imagem ou som salpicado numa folha digital. "Que vergonha!" pensa-se!
Passa-se o tempo a dizer-se que não temos tempo... a verdade é que, nem sempre chegamos a tempo do que é importante na vida: a vida de cada um e a nossa. A palavra por dizer, o café por deixar a conversa em dia, o filme visto em silêncio na presença de alguém importante, o abraço que conforta naquele minuto...

passa-se o tempo a perder tempo com tempo perdido!

Agora que olha para trás, e quando se pára e reflete sobre o tempo que não se tem e o tempo que se devia ter, toma-se a decisão de tentar melhorar isso e começar a tentar fazer um esforço por se ter tempo...

até que p percamos outra vez tempo num tempo perdido!

Fica a banda sonora daquilo que o tempo faz da vida: um puzzle que se vai fazendo, peça a peça, "pidacinho" a "pidacinho".

sábado, janeiro 07, 2012

A delícia de poder sonhar (07.01.2012)

António Manuel Couto Viana, um verdadeiro Senhor do/no Teatro Infantil. Crítico da "simplicidade básica" que as pessoas teimam em "vender" às crianças que, são bem mais espertas e aventureiras que qualquer adulto. Irei falar mais deste senhor quando referir coisas deliciosas que estou a devorar no seu livro. Mas, não fugindo do que me trouxe ansiosa por partilhar com o mundo...
Entre leituras que adormecem a cada parágrafo passei, finalmente, ao livro "O Teatro ao Serviço da Criança". Entre muitas coisas que me despertaram até ao final, este poema foi aquele momento que me deliciou por... por... tudo!!! É como que um "dar de caras" com aquilo que adoramos na infância e "deitar fora" aquilo que sempre ouvimos como correcto ou imposto pelos adultos.
Espero que vos venha a deliciar tanto como a mim.


«É uma história passada no Mundo-das-Meninas-Pequeninas. Um mundo em que não é preciso fingir. Ali, as flores abrem e fecham se está calor ou frio; e a Maria da Lua, quando não tem que estudar, vem ajudar as andorinhas a escolher o lugar melhor para fazerem o ninho. Os montes são sempre lilases, e há sol ou chuva conforme se brinca ou não aos saphis e se procura uma pista na lama encarnada de qualquer terra sem nome. As crianças sabem que nascem como as flores, e as flores ensinam-lhes que o orvalho só vem para aquelas que são boazinhas e brincam ajuizadamente com as borboletas. As trepadeiras entrelaçam-se e, se as meninas estão cansadas, brincam às cabanas. O musgo nunca se zanga se o deixam sózinho - só não admite que lhe chamem polítrico. É a terra das palavras largas e cheias de cantigas. O mar é verde-fundo com peixes de ouro. Os pássaros, ao voar, formam desenhos estranhos. Há caravelas arribadas à costa de areias claras. Os castelos cheios de fadas perdem-se entre árvores azuis. Os dragões e as feiticeiras existem nos fins das florestas sem fim - mas existem só para formar mistério. A palavra Poesia está gravada em todas as pedras - pedras com mais alma do que nós! Os cisnes entoam sempre o último canto - é um país sem lógica, talvez, mas a quem interessa mais sentir do que pensar...
Branca de Neve não teve entrada ali: ela é um símbolo criado pela Gente Grande. Mas todas as meninas pobres de todas as esquinas do mundo procuram nesse país o urso de pêlo e a boneca de tranças enroladas a que tinham direito - como direito tinham de dormir quentes e comer batatas fritas.
Os génios da Floresta Cinzenta fazem chover nos dias tristes e sós. Os furacões e as tempestades estão escondidos em masmorras pretas. A palavra terrível está escrita num desmedido cipreste colocado ao fundo de um barranco.
Peter Pan foi castigado pelas suas ideias subversivas. A Gente Grande pensa que o Grand Meaulnes ali vive. Eu vou contar: numa noite pesada e sem luar a Aventura chamou-o com uivos surdos, e o pobre foi arrastado para o País-do-Tem-Que-Ser.
Ali, os papagaios e os canários não são aves: foram elevados à categoria de mártires.
O Fantástico, a Maravilha, a Beleza, só vão embora depois de as meninas estarem a dormir.
Uma manhã em que o Pato Donald apareceu, as meninas riram... mas não gostaram - e uma onda levou-o.
O Preto Papusse Papão - «ai não se debruce, menino, não!» - anda agarrado pela varinha de condão de fada Não-Tenha-Medo.
As orquídeas estão no País-da-Gente-de-Mau-Gosto-e-Dinheiro.
Os rios não têm corrente fixa: se as meninas querem remar para o alto das montanhas cheias de neve e sonhos - o rio sabe que tem de as levar.
Os pintainhos ficam sempre bolas loiras e desajeitadas, cheias de mimo.
O Presépio está armado todo o ano. Ninguém sabe o que é a Árvore de Natal!
O Tempo e a Distância não têm significação.
Os cogumelos não se arrancam para as bonecas das meninas e as meninas-bonecas fazerem casas.
La Fontaine não tem grandes simpatias por causa da fábula da Cigarra e da Formiga.
As meninas pensam que os condutores dos eléctricos ganham todo o dinheiro que metem na saca de coiro.
O azul do céu nunca desbota e o verde transparente das árvores é sempre de Primavera.
«Saudade» é uma palavra ali admitida - nem sei porquê! Talvez porque as meninas ainda não a provaram.
Eu queria tanto ser uma Menina-Pequenina!...»


quinta-feira, janeiro 05, 2012

Um baú especial


Havia uma menina que procurava alguma coisa. Corria de um lado para o outro, desorientada à procura de qualquer coisa mas... era o quê?! Procurava um baú, alguém lhe dizia que era ali que se guardavam coisas que eram mais velhas mas que não se queriam perder, guardavam-se coisas que não se usavam mas que se queriam guardar...ela procurava o sítio ideal para GUARDAR. Não sabia por onde começar, há tantos baús por aí!!!
Dava consigo a pensar:

- Há os baús das histórias dos piratas e dos tesouros que moram no fundo do mar, dentro de um barco que afundou ou...apenas no fundo do mar; há os baús de coisas velhas que mora no sotão empoeirado de casa das pessoas e que guardam coisas desde o tempo em que a avó era menina (mas agora é velhinha...será que é tudo tão velhinho assim?); há os baús nas casas que enfeitam e onde se guardam as coisas que não cabem bem nos armários (a mamã põe lá cobertores, lençóis..tanta coisa que nem consigo lembrar-me de tudo)...mas...eu queria um baú diferente!

Dava voltas à cabeça, e ninguém entendia para que seria o tal baú!

- Filha, para que queres um baú?!
- Mamã, tu não entendes! Eu quero um baú vazio para poder encher. Tens algum MUUUUUITO grande?
- Não! Mas eu posso ajudar se me disseres para que precisas dele. O que queres lá guardar dentro, podes dizer-me?
- É difícil explicar aos crescidos porque vocês não entendem nada mas, eu vou tentar.
Quero um baú bem grande! Quero guardar coisas que possa saber onde estão e ir usando enquanto vou crescendo.
- E que coisas são essas, menina?
- São sonhos! Quer um baú de sonhos! O meu baú de sonhos perdidos! Então, eu tenho muitos sonhos - aquelas coisas que queremos muito ver acontecer um dia. Quero guardar todos no mesmo lugar para poder ir buscá-los quando eu estiver quase a conseguir tê-los a sério. Assim, vou buscá-los e, quando acontecerem posso tirar esse e meter outro sonho novo nesse lugar.
- Hum... e que sonhos tens tu perdidos?
- São taaaaaaaaaaaantos que me vou esquecendo e perdendo na minha cabeça, ficam baralhados, às vezes!! Achas que posso ter um baú para não perder mais nenhum? Eu prometo, ficam todos arrumadinhos como deve ser.
- Podemos tentar!
- Sabes, mãe, eu tenho sonhos muito importantes: poder namorar com o Miguel quando for crescida, ter um cão chamado Snoopy(daqueles beeeeeeem fofinhos), aprender tanto na escola que vou ser muito esperta e vou tratar das pessoas que ficam doentes mas... há um sonho que eu queria guardar sempre!!
- Qual?
- O de poder guardar sempre todos os sonhos e sonhar sempre mais! É que os crescidos, como não têm baús daqueles que eu quero, o dos sonhos, perdem os sonhos depressa e depois...já não sabem sonhar!



Janeiro 2012
Ana Simões

Porque sabe sempre bem escrever sobre crianças e como se fosse para crianças e... "é tão bom sonhar!"

Histórias que contam histórias dentro de histórias contadas


Era uma vez uma história que contava histórias! As histórias contavam histórias de histórias contadas...muito confuso!!
A imagem que forra o pensamento é igual a uma gaveta aberta com pedacinhos de memórias guardadas em pequenos objectos...cada objecto tem uma história e todos eles podem ter a sua sequência, seja em tempo ou em memórias. São as "era uma vez a minha história" que contam essas histórias de histórias contadas.
O dom da palavra torna uma história especial ou preenche-a de um entusiasmo fabuloso que prende quem ouve e quem vê. Quem não gosta de uma bela história cheia de expressividade e vida, seja qual for o tema? Dos mais pequenos aos mais crescidos, aí está ela, a vida que a história pode ter.

É pelo Natal que as histórias têm uma certa magia nostálgica e encontramos no mural da memória a imagem da avó com os netos em frente à lareira, com um livro, a postura ansiosa das crianças e, uma árvore de natal junto à janela e...o conforto do quente a jogar com a neve que cai lá fora :) Quem não viu isto?

Que este Natal tenha uma história e um conforto para manter por dentro e que se contem histórias contadas...com ainda mais vida!



Dezembro de 2011