Concha ficou em silêncio. Até que no seu espírito encontrou uma solução.
- Então vais fazer uma coisa mais difícil: escondes o meu coração dentro de uma concha no fundo do mar e eu fico cá para a minha Mãe não se sentir sozinha.
(...)
O seu coração vivia numa concha, perdido no fundo do mar. Ninguém sabia onde ele estava. Nem mesmo ela. Só o Génio, mas os génios não aparecem quando nós queremos (...) podia até dar-se o caso de ele nunca mais aparecer.
"Não faz mal", pensava ela. "Se alguém encontrar o meu coração, há-de descobrir onde moro e um dia eu vou tê-lo de volta."
(...)
Todas as noites sonhava que vivia dentro da concha onde estava o seu coração e foi assim que conseguiu crescer sem elouquecer de tristeza.
(...)
Concha nunca contou à Mãe o que o Génio fizera. Mas ela sabia, porque as mães sabem sempre tudo. Nem sempre revelam que sabem, mas sabem sempre.
Por isso a Mãe nunca lhe perguntou onde escondera o coração
(...) uma pessoa tem de saber proteger-se quando está muito ferida senão pode morrer. Foi o que Concha fez.
in A rapariga que perdeu o coração, de Margarida Rebelo Pinto
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