sábado, dezembro 02, 2006

O que uma película tem dentro de si só!

“No tempo em que sempre esperava ter companhia para ver o filme X ou Y, estranhava aqueles que via abandonar sós a sala de cinema. Não se ressentiriam da sua solidão, no meio dos grupos e casais, comentando e rindo os destinos dos personagens? Não teriam amigos? Seriam o único elemento da família apreciador da sétima arte? Mais tarde, percebi uma série de coisas importantes: que, esperando pela companhia, deixaria sair de cartaz muitos filmes; que há lugares muito mais práticos para namorar; que se aprecia melhor uma película na mudez da individualidade, sem ter de comentar ou sussurrar a cada momento-chave; e que, por fim, o verdadeiro espectador nem de si se lembra durante um filme, quanto mais pensará se está ou não um rosto conhecido na cadeira ao lado.Hoje, sou um convicto militante desses que peregrinam, isolados, para o interior das salas. Quando saio, digiro, tranquilamente, a narrativa das imagens, nos melhores casos, até ao adormecer.No entanto, o atractivo fundamental do cinema solitário continuava a escapar-me. Até ontem. Nesse feliz título de Pedro Paixão, Viver Todos Os Dias Cansa, desvenda-se o segredo: as pessoas que gostam de ir sozinhas ao cinema fazem-no porque durante duas horas não precisam de existir. O telemóvel está desligado; no escuro, somos invisíveis; sem ninguém a acompanhar, não é necessário fazer uma piada ou um comentário inteligente. Não é preciso nada. Se o filme for mesmo bom, nem nos lembramos, repito, de nós próprios. Duas horas de suspensão de vida, de intervalo, de exílio.De “O Ninja das Caldas” a “Citizen Kane”, escolham as vossas armas. O cinema pode fazer mais pela nossa paz interior que um mês inteiro de reclusão no Tibete”

Alexandre Borges

Não fui eu a escrever isto mas poderia ter sido…
Não fui eu a escrever isto mas essas palavras estavam exactamente na minha boca…
Se me pedissem para escrever sobre isso diria exactamente o mesmo…
Sem tirar nem pôr…
Hoje apetece-me ir ao cinema…
Vá-se lá saber porquê…

2 comentários:

An@ disse...

:) pois... ainda não fui ao cinema comigo mas sempre tive ideia de o fazer... ou irei contigo :) ***

Margarida disse...

bem á tem muito tempo este post e sóp agora aqui o encontrei :)
Acho que a frase com que mais concordo é mesmo: "o verdadeiro espectador nem de si se lembra durante um filme, quanto mais pensará se está ou não um rosto conhecido na cadeira ao lado." Eu já fui ao cinema desta forma e não digo que seja melhor ou pior, por mim só dou mesmo por estar sozinha quando vem o intervalo ou quando acaba e as luzes se acendem :)
Mas acho que o que vale mesmo a pena é ir, é não deixar que o filme se vá embora antes de eu o ir ver;)
ou seja, agarrar a oportunidade!:D