quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Acho que conheço alguém assim:

“Que história é essa de quereres ser feliz comigo, ninguém é feliz comigo, sou um chato. Não gosto de conviver, não gosto de sair, não gosto de praia, nem sequer gosto de jantar fora. Gosto de estar no meu canto e que não falem comigo. Que raio de felicidade te podia dar? Ficares num canto também a aborreceres-te? Além disso não reparo nas datas: nos teus anos, nos meus, no dia em que nos conhecemos e portanto não ofereço flores, não dou beijinhos, não abraço, não comemoro, não te deixo de lágrima no olho, comovida a pôr rosas nas jarras. Gosto de pescar. Calculando bem talvez nem goste de pescar: gosto de me sentar na muralha a ver as luzes de Almada reflectidas na água preta, a tremerem. Isto sem pensar em nada. “ Ou a pensar em tudo.

Mudo o pronome de género... Revejo-me

“ (…) Apetece-me, calcula, oferecer-te flores. Não ofereço. Abraçar-te. Não abraço. Reparar nas datas. Não reparo. Fico para aqui de mãos nos joelhos. E, como não gosto de sair, se me convidares para o teu casamento desculpa mas não vou. Contribuo para a prenda dos colegas do trabalho.”
(António Lobo Antunes)


Que história é essa de quereres ser feliz comigo?
E ainda perguntam… :)

1 comentário:

An@ disse...

Faz-me lembrar mais do k uma pessoa em certos pontos do excerto!

Lembrei-me do "ir pescar", "não tocar", ... um lugar no meio do mar, cercada pela praia...uma ilha...algumas semanas...

Apetece-me responder:
se não me abraças, eu abraço.te; se não gostas de praia, vamos até ao campo; se não me dás rosas, eu dou-te um beijo; se gostas de ficar a um canto, eu faço-te companhia... eu estou :)

Afinal, será que a companhia não poderá tornar um "não gosto de isto" num "contigo aqui, gosto disto!" ??

*obrigada* pela conversa de à pc...

é caso para dizer:
"fazes-me falta!" :) *