Via-se uma sala meio baralhada! Pequenas vidas circulantes por cada espaço... a espera para que se sentassem já começava a tornar-se longa. Apressou-se a pedir que todos fossem escolhendo um lugar à volta do tapete do costume. Sentiu um abraço apertado... encontrou um sorriso e um olhar brilhante que dizia "Anda! Senta-te!" . Ela fixou-se um pouco naquele "pequeno grande" abraço e sorriu-lhe, "sem pensar". Pediu ajuda para despachar as coisas e sentarem-se juntos. Repetiu-se o abraço e o pedido. Ela sugeriu-lhe, atarefada, "senta-te e guarda um lugar. Eu vou sentar-me ao pé de ti mas antes vou pedir que todos se sentem" mas ele não se sentiu satisfeito e deixou escorrer um ar triste. No momento nem reparou mas, a pequena vida continuava agarrada à bata a percorrer cada lugar até dar a mão para garantir que se mantinha perto.
A determinada altura ela parou... olhou para trás e ali estava, sem deixar fugir, sem largar e à espera. Entendeu então que sentar-se com alguém é diferente de se sentar à espera de alguém. Ele queria aquele colo, ele deu aquele abraço, ele só queria sentar-se com ela, ao mesmo tempo, no mesmo lugar para procurar aquele colo. Ela nem tinha pensado nas coisas assim. Depois de parar, pegou-lhe na mão, deu-lhe um enorme sorriso e foram sentar-se! Num pulo ele sentou-se sorridente no colo dela e ... ela sentiu uma enorme necessidade de o abraçar, em tom de desculpas! Ele sorriu "daquela maneira" e ficaram assim...
Quando dizem que as crianças não sabem nada das coisas, que estão para aprender... é mentira! Aprendi que há uma ENORME diferença entre sentarmo-nos com alguém, ao mesmo tempo, naquele momento, e esperarmos por alguém sentados. É uma ansiedade na espera, é uma incerteza (de alguma forma)...! Quando menos se espera encontramos um abraço gratuito e um sorriso que delicia a alma! Uma simples e leve entrada pela sala vendo uma pequena vida dirigir-se ao meu colo com um ar sonolento mas um sorriso já solto é das melhores prendas que estes dias me vão dando!
Desengane-se quem acha que estar com crianças é só brincar, ensinar e sair cansado de um dia, com gritos e correrias... é mais que isso! Muito mais que isso!! Nem sempre se consegue ver o que está por trás de tudo mas... é um outro mundo! Os meus pequenotes são muito do melhor que tenho!
2 comentários:
Houve inspiração por esses lados. Consegui imaginar a cena lendo o que escreveste. Parabéns!!!
Já perdi o hábito de lidar com pequeninos, até quase que tenho medo. Eles de facto são todo emoção. Jamais um adulto se agarrava assim a outro para pedir atenção, aliás seria imediatamente censurado. Como nós somos cruéis...
Há mesmo diferença entre sentar-se com alguém ou esperar sentado por alguém...mas...
Vou ser um bocadinho dura naquilo que vou dizer:
Ser educador é uma tarefa muita ingrata.... exige uma dose recheada de equilibrio... uma mão cheia de incertezas e ... estamos sempre sujeitos a olhares castrantes de uma plateia pronta a apontar o dedo!
só podemos educar aquilo que existe...
Na minha opinião ( também ela sujeita a olhares castrantes de uma plateia pronta a apontar o dedo) acho que uma das principais tarefas da educação é promover esse "saber esperar"....
è estruturar as crianças cognitivamente para o adiar da gratificação.. só assim conseguem compreender que as consequências não são apenas imediatas mas à posteriori ( recebo a tua companhia não porque andei atrás de ti a pedi-la e não te deixei "fugir" mas porque eu quero dar-te a minha companhia! Atende tb às minhas necessidades e percebe que não posso ir imediatamente e respeitamos o espaço um do outro) e com isso vão interiorizando o sentido da persistência, de antecipação, de planeamento de acções e de divisões de atenções...
Importante é saber-se que há alguém que impõe limites ( vai-te sentar que já lá vou ter e se disse vai-te sentar é mesmo para te ires sentar. A segurança de um " sou eu que mando"!), que não se esquece das promessas feitas e que se vai lá mesmo sentar, e assim dá-lhe a noção da confiança...
Porque só asim se ensina que todos temos um comando ( como os da televisão) no nosso interior com os quais podemos gerir à distância aquilo que queremos sem necessariamente tocar, ou estar perto numa fusão inibitória...
Este é o primeiro passo para um desenvolvimento emocional saudável....
às vezes o melhor colo é aquele que se dá não com miminhos mas com uma definição de regras bem clara e que dá suporte, dá forma a uma segurança ( que se nota pedida...patente no pedir colo, na insegurança do agarrar da bata com medo de que se esqueça, se vá embora, que não estejas lá...)
Se calhar desviei-me um bocadinho do que escreveste....
Mas sei bem que sabes dar um colo mesmo bom!
Grande beijinho
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