Pouco tempo depois chega um senhor, na casa dos 70 quase 80 anos (note-se que as idades neste post são um factor importante). Vinha de bicicleta e trazia uma criança nela (um bocadinho ranhosa, no sentido mesmo literal da palavra, e que deduzimos ser a neta).
Não o conhecíamos mas aproximou-se de nós e assim descontextualizado disse sorrateiramente: “permitam-me que vos dê um conselho: Não namorem! Façam-no apenas depois de terem o “canudo” na mão.” E continuou a discursar uns largos minutos sobre o que ele entendia como sendo a beleza do amor e a maturidade que as relações mereciam, bem como a racionalização necessária para não nos perdermos nele em detrimento de uma vida profissional.
Na altura achei completamente inoportuno e nem liguei nadinha ao que ele disse, na minha opinião um fundamentalismo “barato”. Na verdade, nunca mais me esqueci deste episódio.
Ao longo do meu crescimento fui percebendo as palavras dele (mentirinha! Mas é um pretexto para contextualizar a história que vem a seguir de quando um amigo me ludibriou dizendo que me levaria a um local mesmo especial, um monumento, e fui transportada para a fábrica de Sumol, na altura em que era viciado por esta bebida (lembro novamente que estamos a falar da faixa etária dos 16 anos- eu disse que as idades seriam um factor importante deste post), só mais tarde descobriu o álcool – aproveitem o momento para reflectirem acerca da maturidade dos homens (que tinha sido alertada inicialmente pelo senhor da bicicleta a par do “Não namorem” (a lembrar que os velhinhos presenteiam-nos sempre com palavras sábias, quer dizer, pelo menos quase sempre!).
O caricato da coisa é que passado sensivelmente 3 a 4 anos fiquei a conhecer este senhor, o Senhor Raul e desde então já tivemos muitas conversas.
Gosto mesmo do Senhor Raul e ele diz explicitamente que se não fosse tão velho se casava comigo (numa cumplicidade disfarçada!- primiero "não namoraem, não namorem", mas casar já pode ser =)), diz que de todas (à frente de um bando de gente) nutre um carinho especial por mim e que sente muitas saudades do meu sorriso (aprendi que com o tempo os homens acabam por refinar os piropos e que a idade nos faz nunca levar a mal aquilo que dizem).
Sei que pergunta sempre mas sempre por mim quando não me vê.
O Senhor Raul:
Ensinou-me que o antigamente e o hoje em dia não sobrevivem sem afectos.
Ensinou-me que o respeito é o mais importante nas relações e que um e outro nos contagiamos mutuamente na troca de histórias (vá, mais as deles…).
Ensinou-me o quão pequenina sou e a falta de humildade que teimamos ter em não querer "ouvir" os mais velhos e em teimar entendê-los sempre "descontextualizados!"
Ensinou-me a importância de ouvir, ou melhor, de escutar…
Ensinou-me….
Diz que o que mais queria na vida era estar vivo para o meu casamento…
Digo-lhe que apadrinhou-me “no saber querer muito bem a felicidade de uma pessoa”.
No fundo, casámos duas gerações de “esperança”….
A minha pela (suposta) juventude (sim, pq já não tenho 16 anos - "Ohh tempo volta para trásss...")…
A dele, pela esperança de “um amor que tudo pode, tudo crê e tudo suporta”… ( chamo-me mesmo assim: esperança!"
http://www.sonybmg.pt/Includes/Modulos/PopupAudio.php?Dir=DIR_V_AUDIO&NomeAudio=adriana_calcanhotto/01_Um_Dia_Desses.mp3
Porque esta música também é um tanto ao quanto caricata tal como a situação!
Tenho esta suposta mania de querer transformar histórias banais em contos de fada do séc. XXI…
(Perdoem!)
1 comentário:
"Um dia desses..."
gostava de encontrar um Sr Raúl que me falasse da vida, que me soubesse falar ao coração, que me soubesse fazer acreditar em coisas que vão "desfalecendo" com o desenrolar da vida e de situações que dela e nela surgem...
Um dia dess(t)es... queria voltar(-me)!! Ver(-me) outra vez!!
Um dia...
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