segunda-feira, novembro 30, 2009

Aconteceu...


Planear... é o que o ser humano tem tendência a fazer a vida inteira. Planear os dias, as viagens, as datas festivas, as saídas à noite, os jantares com amigos, os cafés, ... tudo se planeia (ou pelo menos tenta-se fazer os planos de forma a tudo estar controlado). Mas, como tudo, há alterações de última hora, mudança de planos, prioridades que ultrapassam tudo...


Nem sempre as combinações de última hora são um desastre, podem mesmo tornar-se numa situação e num desenrolar de momentos fantásticos e intensos. Podem mesmo ser os melhores planos "não planeados" de sempre.


Aconteceu... há muito tempo que não me lembrava de viver uma noite "não planeada" com companhia "não pensada". Tudo na mesa de um café, após um dia longo de trabalho... o frio ameaçou cancelar e recuar mas, passou-se para um jantar a 3, bater na porta de cada uma das nossas casas e seguir viagem para um cantinho com música envolvente e harmoniosa a terminar com música rock, alguma dança e mais companhia. Um somar de situações e pessoas que podem fazer a diferença.


Aconteceu... deixar que o tempo avance sem controlar o relógio. Estar no momento sem viajar muito pelos outros planos e irritações exteriores... Uma noite diferente, em óptima companhia e sem planos até acontecerem por si só.


Aconteceu... haver tempo para os outros e tempo para si mesmo! Vaguear nas ruas com a brisa fresca, as mãos a gelar e os olhos a cintilar com a harmonia que a rua infiltrava em cada poro. Ar puro, fresco e um cheiro a liberdade e desprendimento. Sorrisos, risos que chegaram com uma companhia surpresa mas muito bem vinda, não fosse o tempo (ou a falta dele) andar a desviar os caminhos de uns e outros.


Aconteceu... adormecer porque sim, andar na chuva porque o chapéu ficou em casa com a pressa de chegar a horas, voltar a adormecer sem querer contrariar ou sem forçar a uma saída para o frio que parecia assustar lá fora.


Aconteceu... acordar e sair, mesmo com o frio mas com uma luz leve a cair do céu que, logo sumiu à medida que as rodas percorriam a estrada em direcção ao rio. Tinha um lugar mesmo à minha espera, tal como uma companhia que trazia muito que contar por dentro.

Sentir um sabor doce, leve, escorregadio e algum granulado que rebentava ao enrolar-se na língua quente... o sabor a laranja percorria todos os cantos da garganta e do cor, e que bem que soube. Brincar com o copo, olhar para todo o ambiente e cair no conforto dos sofás que gritavam por um corpo caído e relaxado... assim foi! Risos, sorrisos e "abrir de portas" que se fechavam a si mesmas... abraços e toques suaves de cumplicidade "não perdida" nem desgastada com o tempo "ausente"... soube bem!


Aconteceu... voltar a sentir que não é preciso usar todas as palavras, que não é preciso abraçar para dar um abraço, sentir o quão bom é poder dar colo e fazer alguém sorrir o tempo todo sem esforço ou intensão... é bom querer fazer bem (e fazê-lo realmente) a alguém, mesmo que implique ser-se duro numa fase inicial... o final é que conta!


Aconteceu... a surpresa das palavras escritas numa mensagem, a surpresa de um tilintar de sons, a chegada do aconchego de uma amizade duradoura, a surpresa de um anoitecer em que a tranquilidade chega e vai como um baloiço!


Aconteceu... que passou um fim-de-semana a voar e ... aconteceu o sol brilhar e a chuva cair mas, ainda assim, muita coisa aconteceu e, aconteceu sem planos!


Expressões que marcam os dias ...


Nothing is ever as it seems

Lamento

...é por ti!


E assim os dias correm e a vida também!

quinta-feira, novembro 26, 2009

domingo, novembro 15, 2009

Os exclusivos das estórias demoram-se sempre pelo caminho…

Reconheci-te o remorso. A tentativa sôfrega para abrandar a culpa. Na verdade, é isto mesmo que nos move, a culpa e o medo…
Apetecia-me afagar esse teu ar fatalista com abjurações falaciosas…Cobrir o teu medo de suavidade, à semelhança do que faz o som de música caseira às preocupações laborais…


És meu convidado neste despertar, onde a espera é censurada… Sustemos a respiração para não fazer muito barulho porque sabemos que o silêncio enternece… Um silêncio que se esfrega contra todos os poros da pele…

Proferes, cuidadosamente, as palavras da trama que escondes (convencendo-te de que quanto mais verdadeiro, mais poético) e ludibrias-me com a tua sagacidade… mas bem sabes que sempre gostei de versões diferentes…


(Cover de Pixies)

sexta-feira, novembro 13, 2009

"1 Mensagem de..."

A noite fala connosco deixando-nos sussurrar no meio da floresta perdida aquilo que ainda encontramos... E sentimos como semente, flor, fruto em nosso ser... Encontro uma casa abandonada onde me alojo sentindo as vibrações de quem a habitou outrora, revelo o passado das suas paredes. Assustada, volto para a escuridão da floresta... Onde me perco... E talvez me encontre... Onde a tua é mais verdadeiro

Wipa, 13 Novembro de 2009
Há mensagens que chegam na melhor altura, como pessoas que surgem inesperadamente reflectidas num tom de alma incrivelmente suave e semelhante... As palavras têm um dom e um toque especial, tendo em conta quem as diz, quem as escreve ou solta no simples olhar...
Obrigada, Wipa e... "Apetecia-me contar-te um segredo" :)

quinta-feira, novembro 12, 2009

O Segundo Desejo


(...)


De repente, no meio da história, apareceu o Génio. (...)

Estás tão crescida! Mas falta-te qualquer coisa...Já sei! É o teu coração. (...) E consegues ser feliz, mesmo sem o teu coração? - perguntou o génio preocupado com ela.

- Acho que sim. Pelo menos não penso nisso. Trabalho tanto que nem tenho tempo para pensar.

- Tapar uma coisa não é o mesmo que esquecê-la - advertiu o Génio.

- Eu sei (...) mas agora é melhor assim.

- E porque não pedes outro desejo? (...)


- Pode ser - concordou. - Quero que açguém encontre a concha onde está o meu coração e ma ofereça de presente.

- Está bem - respondeu o Génio. - Assim que eu encontrar a pessoa certa, resolvo-te isso.


E desapareceu mais uma vez, sem que mais ninguém o tivesse visto.


"Só os Génios é que conseguem aparecer e desaparecer desta maneira", pensou ela.





in A rapariga que perdeu o coração, de Margarida Rebelo Pinto

terça-feira, novembro 10, 2009

O primeiro desejo

(...)
Concha ficou em silêncio. Até que no seu espírito encontrou uma solução.
- Então vais fazer uma coisa mais difícil: escondes o meu coração dentro de uma concha no fundo do mar e eu fico cá para a minha Mãe não se sentir sozinha.

(...)
O seu coração vivia numa concha, perdido no fundo do mar. Ninguém sabia onde ele estava. Nem mesmo ela. Só o Génio, mas os génios não aparecem quando nós queremos (...) podia até dar-se o caso de ele nunca mais aparecer.
"Não faz mal", pensava ela. "Se alguém encontrar o meu coração, há-de descobrir onde moro e um dia eu vou tê-lo de volta."

(...)
Todas as noites sonhava que vivia dentro da concha onde estava o seu coração e foi assim que conseguiu crescer sem elouquecer de tristeza.

(...)
Concha nunca contou à Mãe o que o Génio fizera. Mas ela sabia, porque as mães sabem sempre tudo. Nem sempre revelam que sabem, mas sabem sempre.
Por isso a Mãe nunca lhe perguntou onde escondera o coração
(...) uma pessoa tem de saber proteger-se quando está muito ferida senão pode morrer. Foi o que Concha fez.



in A rapariga que perdeu o coração, de Margarida Rebelo Pinto

quinta-feira, novembro 05, 2009

Disseste-me que os lugares permanecem....



Sei bem que a memória é traiçoeira…
Sei bem que, por vezes, recordamos as coisas de acordo com as nossas percepções pessoais…
Sei bem que, fazemos por preservar determinados factos em detrimento de outros… ás vezes os melhores, outras vezes os menos bons...
Sei bem que o prazo da memória não é ilimitado...

Sei bem que construímos sempre as nossas memórias… e que também as podemos descontruir…
Mas ,e quando elas se começam a desvanecer sem que tenhamos nisso algum auto-controlo?

Contudo, o lugar que ocupamos permanece sempre... se não é em nós... é em quem está de perto...

"...queria fazer do amor um espaço que me ocupasse inteira."