terça-feira, julho 10, 2007

Raridades: em vias de extinção

Príncipes Encantados

"Faça como uma amiga minha que cada vez que sai do carro, vira o retrovisor para o lado do condutor, retoca o batom e diz com uma convicção demolidora o Príncipe pode estar em qualquer lado. E pode mesmo. É uma questão de fé, totalmente arbitrária e aleatória, mas pode acontecer. Até porque nós, os extraordinários, somos poucos, mas andamos por aí. Isto é o que diz outro amigo meu que por acaso é mesmo extraordinário e já encontrou a pessoa certa, pelo menos por enquanto. Foi ele que um dia me explicou o que era esse maravilhoso conceito da pessoa certa.
A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem.
Os verdadeiros Príncipes Encantados não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que no futuro nos vão levar à Tour d’Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.
O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Amo-te, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é que passa de vez em quando férias com os amigos. O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado do mundo; é o marido mais porreiro do mundo, porque não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja um lugar na mesa para os filhos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que ajuda os mais velhos a fazer os trabalhos de casa e põe os mais novos a dormir com uma história de encantar. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.
Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica"

Margarida Rebelo Pinto, 2003


Gosto de ler o que esta senhora escreve, pela forma como o faz e pela simplicidade e realidade também! Visualizo muitas destas situações em pessoas, amigas, ... na vida!
Só acho que os Príncipes Encantados estão em vias de extinção... apenas isso! As princesas maravilha... parece-me que também, ou então calçam todas o mesmo número e têm demasiados sapatos iguais... eles confundem-se...será? *

2 comentários:

Sr Goga disse...

Eu acho que as princesas encantadas falam de mais (sintomático em todas as raparigas!) porque têm medo de não dar nas vistas e assim ninguém repara nelas. E os príncipes encantados são aqueles rapazes que passam mais tempo calados do que a falar porque sabem que no silêncio se encontra a sabedoria. E assim, as princesas não vêem os príncipes porque estes não falam e os príncipes não vêem as princesas porque estas são um bocado espalhafatosas e aqueles procuram a paz nas pessoas.

Mas claro que é só a minha opinião.

Goga

An@ disse...

LOL :) existem princesas e príncipes, eu acredito nisso. Cada pessoa, à sua maneira, define o príncipe q tem, sonha... tal como o sexo oposto.

Existem raridades: em vias de extinçao, versao feminina :)

Hoje em dia não sei bem se as raparigas devem ser "protegidas" como sempre foram... cada vez mais me sinto assustada com o que as companheiras do mesmo sexo fazem com a nossa reputaçao... ui medo!!

Mas... há excepções... em ambos os casos, felizmente :)

E a tua opinião, miguinho, conta sempre:)
dp quando vieres conversar cmg dp dos teus trabalhos difíceis conheceremos muito melhor todas as nossas ideias e opiniões:) ficarei contente com isso:)

*