sábado, março 29, 2008

Um dia desses...


...Por volta dos meus ternurentos 16 anos (porque fica sempre bem qualificar essa faixa etária com adjectivos que incitem a imagem mental de inocência e fazem parecer a idade que temos hoje como um posto de maturidade :S), enquanto ia a pé para casa na companhia de uma amiga parámos um bocadinho para conversar na bifurcação que nos separava.

Pouco tempo depois chega um senhor, na casa dos 70 quase 80 anos (note-se que as idades neste post são um factor importante). Vinha de bicicleta e trazia uma criança nela (um bocadinho ranhosa, no sentido mesmo literal da palavra, e que deduzimos ser a neta).

Não o conhecíamos mas aproximou-se de nós e assim descontextualizado disse sorrateiramente: “permitam-me que vos dê um conselho: Não namorem! Façam-no apenas depois de terem o “canudo” na mão.” E continuou a discursar uns largos minutos sobre o que ele entendia como sendo a beleza do amor e a maturidade que as relações mereciam, bem como a racionalização necessária para não nos perdermos nele em detrimento de uma vida profissional.



Na altura achei completamente inoportuno e nem liguei nadinha ao que ele disse, na minha opinião um fundamentalismo “barato”. Na verdade, nunca mais me esqueci deste episódio.

Ao longo do meu crescimento fui percebendo as palavras dele (mentirinha! Mas é um pretexto para contextualizar a história que vem a seguir de quando um amigo me ludibriou dizendo que me levaria a um local mesmo especial, um monumento, e fui transportada para a fábrica de Sumol, na altura em que era viciado por esta bebida (lembro novamente que estamos a falar da faixa etária dos 16 anos- eu disse que as idades seriam um factor importante deste post), só mais tarde descobriu o álcool – aproveitem o momento para reflectirem acerca da maturidade dos homens (que tinha sido alertada inicialmente pelo senhor da bicicleta a par do “Não namorem” (a lembrar que os velhinhos presenteiam-nos sempre com palavras sábias, quer dizer, pelo menos quase sempre!).

O caricato da coisa é que passado sensivelmente 3 a 4 anos fiquei a conhecer este senhor, o Senhor Raul e desde então já tivemos muitas conversas.
Gosto mesmo do Senhor Raul e ele diz explicitamente que se não fosse tão velho se casava comigo (numa cumplicidade disfarçada!- primiero "não namoraem, não namorem", mas casar já pode ser =)), diz que de todas (à frente de um bando de gente) nutre um carinho especial por mim e que sente muitas saudades do meu sorriso (aprendi que com o tempo os homens acabam por refinar os piropos e que a idade nos faz nunca levar a mal aquilo que dizem).
Sei que pergunta sempre mas sempre por mim quando não me vê.

O Senhor Raul:





Ensinou-me que o antigamente e o hoje em dia não sobrevivem sem afectos.
Ensinou-me que o respeito é o mais importante nas relações e que um e outro nos contagiamos mutuamente na troca de histórias (vá, mais as deles…).

Ensinou-me o quão pequenina sou e a falta de humildade que teimamos ter em não querer "ouvir" os mais velhos e em teimar entendê-los sempre "descontextualizados!"
Ensinou-me a importância de ouvir, ou melhor, de escutar…
Ensinou-me….

Diz que o que mais queria na vida era estar vivo para o meu casamento…
Digo-lhe que apadrinhou-me “no saber querer muito bem a felicidade de uma pessoa”.
No fundo, casámos duas gerações de “esperança”….
A minha pela (suposta) juventude (sim, pq já não tenho 16 anos - "Ohh tempo volta para trásss...")…
A dele, pela esperança de “um amor que tudo pode, tudo crê e tudo suporta”… ( chamo-me mesmo assim: esperança!"

http://www.sonybmg.pt/Includes/Modulos/PopupAudio.php?Dir=DIR_V_AUDIO&NomeAudio=adriana_calcanhotto/01_Um_Dia_Desses.mp3

Porque esta música também é um tanto ao quanto caricata tal como a situação!

Tenho esta suposta mania de querer transformar histórias banais em contos de fada do séc. XXI…
(Perdoem!)

«fazer de conta que já estou no meu lugar»






Como, algumas vezes, "fazemos de conta" que as coisas estão bem e que são assim mesmo, como queríamos que fossem e tentamos que sejam...

mais cedo ou mais tarde, a realidade assalta e ... !

"CASA (vem fazer de conta)"




[tudo porque fala do "fazer de conta" e sempre gostei muito disto]

*

terça-feira, março 25, 2008

Faz de conta...


Nas brincadeiras de crianças, nas simulações de mundos de crescidos não pode faltar a cena do famoso “ e depois?” ao qual os intervenientes do jogo pensam apressadamente numa estratégia, colocam-na aos seus pares e consoante isso desenrolam a acção…
E depois? Perguntam….
Depois ele sai de casa e vai à rua comprar o que é preciso e encontra o amigo….

Há momentos em que apetece mesmo perguntar…
E depois?

E era agora que eu entrava imponente e ninguém descobria a minha forma doce…. Mostrava-te um olhar seguro e não confundia autoridade com autoritarismo…
Reconheciam-me a lucidez de perceber-te, de perceber-me, de percebermo-nos, tentando encontrar explicitamente uma deixa perfeita para não ser eu a decidir o que não queria mas para o fazer nas escolhas que orientava.
Fazia isso numa troca de humor irónico, inerente ao “salve-se quem puder”e assim agarrava desesperadamente a última palavra a dizer, em todas as escapatórias possíveis…
Admiravas os meus argumentos mas nunca te deixavas vencer por eles…
E só depois… é que me percebias a doçura….

Não gosto muito de “faz de contas”….
Nunca soube jogá-los….


Sem faz de contas….
Livre de estratégias demasiado pensadas…
Apenas ao sabor da realidade…
E depois?

Depois?
E agora eu aparecia assim….Eu era assim!
E a vida voltava a ser minha!




terça-feira, março 18, 2008

Conversas intemporais

Há conversas que temos que nos surpreendem como nossas…
È bom encontrar quem nos ouça e nos ajude a pensar (ou filosofar) no cantinho dos nossos conflitos interiores…




Ela:_ Não consigo conversar com ele...tipo nenhuma conversa…falhas na comunicação… tou mt agarrada às conversas k tenho com X e constatar k não tenho conversas tão agradáveis com mais ninguém faz virar as minha atenções para X outra vez...
...já não me lembro do contexto mas a certa altura perguntou-me se havia a possibilidade de as pessoas fazerem batota nas relações. Respondi dizendo k a única batota k podiam fazer era fingirem-se de mortas (no sentido de não serem verdadeiras nos sentimentos, permanecerem na apatia), o ideal seria ter acrescentado que na realidade o problema reside quando somos empurrados para o esquecimento.

Eu_num momento ou noutro tu acabas por esquecer partes de ti e partes dos outros...
Assim essas partes acabam por morrer mas isso não quer dizer que 1 dia não possam ser desenterradas!

_sim…mas acabam por morrer devido ao esquecimento dos outros.

_mas ás vezes nós próprios queremos que os outros esqueçam...
o problema está em QUEM esquece e O que esquece!

_ora aí está. Em cheio!
E o problema subsiste qd queremos tb esquecer mas não conseguimos.

_mas será que chegamos a esquecer totalmente???

_não...fará sempre parte da memória, contudo o modo como o recordamos é diferente, ou não…podemos recordar coisas do passado com nostalgia e felicidade.
o problema é qd vivemos o passado no presente
e queremos k se repita e não morra.

_eu diria que o problema então é querermos recordar e não conseguimos

_não..o problema é recordarmo-nos

_Estamos as duas a falar no pc. a usar o tempo como subterfúgio para desculpar as circunstâncias da vida. Porquê?

_não tenho resposta...

_é aí que eu quero chegar. A resposta para a vida de cada 1 está nas circunstâncias,
somos nós que construímos as nossas respostas, á medida que conhecemos,
pois todo o conhecimento acaba por ser auto-conhecimento.

_ admitir o k se conhece é que por vezes é complicado..

_ou admitir o que não se conhece…

_tb


Há conversas que nos surpreendem como nossas…

sábado, março 15, 2008

Saber ser(-se) importante para alguém

Outro dia sonhei (não sei se lhe chamo sonho ou pesadelo, mas vá...) que, depois da grande viagem com as amigas, na volta, o avião iria cair. Fiquei assustada com uma coisa... a sensação de quem nem toda a gente poderia ter a noção do quanto eu gosto delas e que não me esqueço delas, apesar do tempo e das circunstâncias e voltas que a vida dá. Pensei como é das coisas que mais complicadas se torna quando perdemos alguém num momento em que não temos ligação e não sabemos o porquê das coisas acontecerem.
Já tinha sonhado (neste caso sim, acho que pesadelo é o rótulo acertado) que num voo diziam-me "tens este telemóvel! Este avião vai cair! Liga para quem é realmente importante para ti e despede-te!" Lembro-me de me sentir aterrorizada e sem saber bem a quem ligar!! Rapidamente me ocorreu a ideia de ligar a "alguém" realmente importante e que precisava dizer algo mesmo importante! Ficou o pedido de avisar "os outros" de como gostava deles.

Muito lamechas mas, por vezes, dá que pensar. Principalmente porque, muitas vezes, penso que as pessoas sabem a importância que têm para mim mas... pode não ser bem assim! Apesar de tudo, acho que têm uma pequena noção pelos momentos, conversas, mensagens e palavras que possamos ter trocado e vivido...

Bom, fica então a "cena" de dizer que cada pessoa sabe um pouco do quão importante é para mim e que, se voltar a cair de avião num outro sonho, como nem sempre há oportunidade de telefonemas... aqui fica! Para pensar e para dizer que... os amigos são realmente do mais importante para mim!! =)


[este post foi mesmo estranho mas, ainda assim, não o relendo, decidi que o ia postar e ... cá está. Inté breve! Boa Páscoa]

quinta-feira, março 13, 2008

Aprender com os pequenos

Via-se uma sala meio baralhada! Pequenas vidas circulantes por cada espaço... a espera para que se sentassem já começava a tornar-se longa. Apressou-se a pedir que todos fossem escolhendo um lugar à volta do tapete do costume. Sentiu um abraço apertado... encontrou um sorriso e um olhar brilhante que dizia "Anda! Senta-te!" . Ela fixou-se um pouco naquele "pequeno grande" abraço e sorriu-lhe, "sem pensar". Pediu ajuda para despachar as coisas e sentarem-se juntos. Repetiu-se o abraço e o pedido. Ela sugeriu-lhe, atarefada, "senta-te e guarda um lugar. Eu vou sentar-me ao pé de ti mas antes vou pedir que todos se sentem" mas ele não se sentiu satisfeito e deixou escorrer um ar triste. No momento nem reparou mas, a pequena vida continuava agarrada à bata a percorrer cada lugar até dar a mão para garantir que se mantinha perto.
A determinada altura ela parou... olhou para trás e ali estava, sem deixar fugir, sem largar e à espera. Entendeu então que sentar-se com alguém é diferente de se sentar à espera de alguém. Ele queria aquele colo, ele deu aquele abraço, ele só queria sentar-se com ela, ao mesmo tempo, no mesmo lugar para procurar aquele colo. Ela nem tinha pensado nas coisas assim. Depois de parar, pegou-lhe na mão, deu-lhe um enorme sorriso e foram sentar-se! Num pulo ele sentou-se sorridente no colo dela e ... ela sentiu uma enorme necessidade de o abraçar, em tom de desculpas! Ele sorriu "daquela maneira" e ficaram assim...

Quando dizem que as crianças não sabem nada das coisas, que estão para aprender... é mentira! Aprendi que há uma ENORME diferença entre sentarmo-nos com alguém, ao mesmo tempo, naquele momento, e esperarmos por alguém sentados. É uma ansiedade na espera, é uma incerteza (de alguma forma)...! Quando menos se espera encontramos um abraço gratuito e um sorriso que delicia a alma! Uma simples e leve entrada pela sala vendo uma pequena vida dirigir-se ao meu colo com um ar sonolento mas um sorriso já solto é das melhores prendas que estes dias me vão dando!
Desengane-se quem acha que estar com crianças é só brincar, ensinar e sair cansado de um dia, com gritos e correrias... é mais que isso! Muito mais que isso!! Nem sempre se consegue ver o que está por trás de tudo mas... é um outro mundo! Os meus pequenotes são muito do melhor que tenho!

terça-feira, março 11, 2008

Paradoxos

http://www.youtube.com/watch?v=wO5cEb5jjog&eurl=


“ Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia”
Nietzsche


“Ocultar-se é um prazer, porém não ser encontrado é uma catástrofe”
Winnicot




domingo, março 09, 2008

Confiar...

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis



Colo(s)


Vidas cruzadas que nos ligam... Há quem fique a tempo inteiro e se torna colo, abrigo... quando o peito aperta e guarda um respirar acelerado e "acriançado"... Chegar e subir para o colo onde um abraço nos aconchega e acalma o que faz tremer a alma e perder o sentido de segurança... Hoje guardaram-me num colo para onde subi devagarmente apressada... um colo que ficou a tempo inteiro desde o primeiro momento... agradecer é pouco! A confiança ... é tudo!