terça-feira, janeiro 22, 2008

Nem dúvidas nem certezas... Certúvidas!


Um brilho entra pela janela, fechada. As folhas estão espalhadas na mesa, prontas a serem mexidas e remexidas com as dúvidas e consultas que o estudo implica e obriga. Sentei-me exactamente onde não lhes consigo chegar. Sinto os músculos pesados, doridos e isso incomoda-me, magoa-me.

Acordei de lágrimas nos olhos... pesadelos que mexeram com sentimentos, medos, ... situações em que nem a dormir conseguimos conter as lágrimas e o medo de deixar as pessoas que amamos sem o saberem. Acordei com calma, como se me estivessem a acariciar a face para acordar ao meu ritmo. Sentia-me como se me tivesse realmente despenhado e estivesse completamente dorida da queda... as dores não passam do esforço de ontem. Estiquei o braço, como de costume mas com dores e dificuldade, e peguei no telemóvel para consultar as novidades do dia... li as mensagens, respondi com tempo e calma, sem pressas de uma cumpridora de horários "descontrolados". Levantei-me devagar e segui a rotina de preparar uma caneca de leite e a trazer comigo para o sítio onde iria ficar a manhã. trouxe tudo o que era necessário para iniciar o estudo preocupado e para recomeçar a rever tudo aos poucos. Apeteceu-me ouvir um pouco de música para tomar o pequeno almoço tranquila.
A música leva-me a divagar por mil momentos, pelos acontecimentos que ouvimos relatados em letras de música, no ritmo que têm... tantas vezes parece que contam uma história nossa sem nunca nos terem conhecido na vida. Deixo-me levar... vejo que o tempo passa e que ainda não me levantei desta cadeira que me deixa desconfortavelmente mal sentada e me causa ainda mais dores mas... não consigo deixar de ouvir música, ler e acabo a escrever. Não em sinto capaz de me levantar e sentar perante os números...

Descobri que andei a evitar conversas com pessoas que devem ter tanto para me perguntar que querem saber de mim e se vão fazendo presentes... sinto-me estranha! Falhei, certamente, porque...?! Não sei bem porque falhei! Talvez saiba, algumas vezes mas... nem sempre me sinto segura para ter a certeza disso.

Fiz mil planos, fizemos planos e tudo ficou por isso mesmo, planos... planos que parecem escritos numa folha que aguarda ser rasgada mas que ainda não foi, num caderno que foi escrito e lido ... mas que não sei onde pára agora... se vai ser colocado na prateleira ou se continuará espalhado no meio do chão à espera de alguma coisa...

Tenho certezas que não são certas e dúvidas que podem ser chamadas de perguntas retóricas... não sei o que chamar a determinadas alturas da minha vida, a determinados espaços do meu pensar, do sentir ... torna-se difícil definir "uma coisa" como certa. Tantas vezes julgo-me controladora inabalável de tudo o que é meu como, de repente, ao mais simples sopro inesperado... cai por terra o castelo... que via feito de pesos e afinal não passam de pequenas cartas cuidadosamente equilibradas enquanto nao ve o vento e vai deitando, com uma suave brisa, algumas cartas por terra que descem como penas leves e ficam deitadas no chão como que um tapete.

"I'm moving on but I don't know where" ouvia isto enquanto conduzia pela cidade. Relata exactamete o que se passa. Estou a andar, vou vivendo um dia de cada vez mas... não sei que caminho é este que percorro, não sei por onde estou a ir... se pelo menos que tenho percorrido se me aproximo de uma nova estrada... é difícil de dizer...
A música tem sido uma companhia simples e "silenciosa" mas também um saturar de palavras. Torna-se difícil viver coisas que não temos como dúvidas nem como certezas... que são apenas isto, o meio termo! talvez um empréstimo do tempo, ou um empréstimo das duas coisas, certúvidas.
Não sei bem... não entendo bem... talvez daí o melhor mesmo é não me deixar parar.

Sinto agora que chega o momento de me enfrentar: lutar contra a vontade e implicar a obrigação de pegar num lápis, numa máquina, num molho de folhas e num dossier e... meter mãos aos estudo/trabalho, esse sim que me poderá levar a algum lugar... a acabar um curso... o resto...???


Não sei ainda o que é nem como é... deixar levar!


[Foto da rapariga: "Thinking about you" foto e título de Daniel Camanho]

1 comentário:

Maria disse...

Tenho uma tendência enorme para me concentrar numa música durante longos períodos… contenho-me… Não a ouço…
Deixo-me perceber-lhe a intenção, os contrastes dos sons que se apanham cá dentro como estranhos…. Familiarizo-me com ela… dias e dias…
Não enjoo…
Nunca a memorizo, mas descubro-lhes as pausas, a orquestra das expressões de fundo, a repulsa, o âmago, o início, as combinações….
Pelo menos como as entendo…
E passam assim longos períodos de tempo…
Depois abandono-a com a esperança de a reconhecer novamente daqui a ainda mais longos períodos de tempo…
E aí, reviver uma fase de vida…
Sim, também “não sei o que chamar a determinadas alturas da minha vida, espaços do meu pensar e sentir”…
Às vezes não sabemos para onde ir mas percebemos por onde não ir…
E isso é ir traçando um caminho...
às vezes a vida é mesmo assim como as musicas...
Deixa-te embalar que mais tarde ou mais cedo aquele refrão familiar aparece ;)